Por Fernando Canzian / Folha
HÁ TRÊS importantes novidades no cenário da eleição presidencial de 2010:
1) Pela primeira vez em 21 anos (cinco eleições consecutivas), o nome de Luiz Inácio Lula da Silva não estará no páreo. Não haverá também um candidato "de esquerda" competitivo no cardápio eleitoral. A partir da reeleição em 2006, Lula consolidou, por inércia e ausência de alternativas, a imagem de amistoso com o mercado. Apesar da leniência com o crescente gasto público, o presidente manteve e mantém o compromisso com a estabilidade. É altamente improvável que o próximo governante fuja desse mesmo "script". O jogo, portanto, será entre quem, na opinião do eleitor, saberá melhor "gerenciar" o país.
2) Diferentemente de eleições passadas, em 2010, a maioria dos eleitores se enquadra na chamada classe C. A maior parte desse pessoal fez a travessia para uma vida mais confortável no governo Lula, via crédito. A população se endivida cada vez mais, potencializando consumo, produção e crescimento. Mas o Brasil ainda tem um espaço enorme por onde crescer apoiado em mais financiamentos. O crédito no país é não apenas pequeno (equivalente a 45% do PIB) mas caríssimo. Mesmo no menor patamar em 15 anos, o juro médio ainda obriga o consumidor a pagar uma geladeira e meia quando compra o produto financiado em 12 vezes.
3) A partir da redemocratização, nunca o Brasil terá ingressado em um período eleitoral tão tranquilo do ponto de vista econômico. E em meio a uma configuração mundial nova, que abre talvez a maior "janela de oportunidade" em décadas. O cenário internacional é particularmente promissor. Nas economias avançadas, o excesso de endividamento e de capacidade ociosa no setor produtivo pode demandar anos até que se faça necessário um novo ciclo de investimentos.
Os governos dos países centrais também tentam tirar suas economias da rota do baixo crescimento oferecendo dinheiro a juros quase negativos. O capital privado internacional estará, portanto, ávido atrás de oportunidades nas economias periféricas. É aí que se dará a competição entre quem estiver mais organizado e oferecendo maior segurança.
É legítimo que o governo Lula tente empurrar o embate político para o passado, para o campo das comparações. Quem fez mais. Quando o país cresceu mais rapidamente. E por aí vai, desconsiderando as bases plantadas por seu antecessor.
À oposição não restará muitas alternativas. A melhor delas talvez seja fazer o que atualmente ninguém faz: tentar explicar à população emergente no Brasil o que ainda pode ser feito para aproveitarmos melhor uma nova realidade.
* FERNANDO CANZIAN é correspondente da Folha em Nova York.
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