sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O "day after" tucano

Um dia depois da desistência de Aécio Neves (PSDB-MG) à candidatura ao planalto, PT e PSDB já começam a se preparar para as próximas batalhas e fazem projeções sobre a jogada do mineiro.

Segundo jornais e colunistas, Aécio teve uma longa conversa com José Serra (SP) antes de decidir pela desistência. Os motivos podem ser variados, mas achamos que um dos principais foi a tímida resposta nas pesquisas para o mineiro poder arriscar uma candidatura. Desde fevereiro o PSDB faz encontros pelo país com os dois presidenciáveis, e mesmo com o alto índice de desconhecimento do eleitor brasileiro sobre Aécio, já passou da hora do "milagre do crescimento" nas pesquisas aparecer em seu favor. Ao invés disso, Serra conseguiu se manter a uma boa distância de Dilma, o que tornou a missão de Aécio ainda mais difícil.

Na carta, o governador mineiro cita uma união do partido para o pleito presidencial em 2010 e se diz disposto a ajudar o candidato escolhido na empreitada, nunca se referindo a Serra, pois nem mesmo o governador paulista assumiu a candidatura ainda e nem o fará tão cedo. E ainda condena a divisão que outros partidos pretendem fazer entre “ricos e pobres”, fazendo uma referência ao último programa televisivo do PT.

Logo após a divulgação da carta, Serra emitiu uma nota elogiosa sobre Aécio e o parabeniza pela “grandeza e desprendimento”. Nos bastidores, Serra ainda espera conseguir ter Aécio como vice numa “chapa puro sangue tucana”, algo pouco provável, mas não impossível, pois seria melhor para Aécio, que ainda pretende ser presidente um dia, ter sua imagem correndo o país como vice do que ficar como senador em Minas, permanecendo como um desconhecido em boa parte do Brasil.

Ao PT, resta agora ver os ganhos e as perdas com a saída de Aécio do páreo, e não fazer conjecturas sobre as razões da desistência, como fez o presidente nacional do partido, Ricardo Berzoini (matéria abaixo).

Em todas as declarações de integrantes do PT, inclusive nas de hoje, é clara a preferência por enfrentar Aécio Neves em 2010, e os números das pesquisas explicam muito bem isso: Serra não cai e Aécio não decola, por isso, tanto carinho e compaixão com o mineiro. Com Serra, no entanto, a estratégia petista de comparar governos “Lula x FHC” parece mais palpável do que com o mineiro. Serra foi ministro de FHC, são amigos pessoais e seria mais fácil colar sua imagem à gestão anterior tucana do que Aécio, que pouco participou do antigo governo.

Ao contrário do que disse Berzoini, Serra agora está em uma posição até mais tranqüila no partido, e não precisa de “posicionar”. O que acontecerá agora? Serra é o candidato, vocês sabem e nós também, mas ele não precisa subir em um palanque e dizer isso, principalmente agora que não tem mais concorrente. No entanto, por todos saberem disso, ele se torna o único alvo da oposição petista, que agora poderá se concentrar em um único adversário ao invés de dois.

Resumindo, as cartas estão na mesa. Façam suas apostas.


Veja abaixo o que saiu no jornal O Globo desta sexta(18):
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Para Ricardo Berzoini, desistência foi uma 'jogada competente' de Aécio

O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini, disse considerar que foi uma "jogada competente" do governador de Minas, Aécio Neves, deixar o governador paulista, José Serra, sozinho na disputa pela candidatura tucana à Presidência. Para Berzoini, o mineiro ainda não saiu do páreo:

- Foi uma resposta de Aécio Neves a essa postura de Serra de ignorá-lo no processo interno. Mas ele ainda não fechou a porta. Pode ser que, caso Serra desista da disputa, no ano que vem, sob muita insistência do PSDB, Aécio volte como candidato. Isso o fortaleceria.

Para o petista, a desistência do mineiro força Serra a se posicionar como pré-candidato a presidente, o que tem evitado.

- Foi uma jogada competente de Aécio. Isso o coloca no centro da cena política, e agora ele está dando as cartas, porque Serra terá de se posicionar em seu partido - disse o petista, que não descarta a possibilidade de chapa puro-sangue tucana em 2010: - Aécio tem feito discurso sobre não haver essa possibilidade, mas é muito cedo para se descartar qualquer coisa.

Berzoini afirmou que a desistência não muda nada para os petistas no cenário eleitoral.

- O fato é que, enquanto não acabar o prazo das candidaturas, tudo é muito indefinido. Esse cenário de indefinições, segundo Berzoini, se estende ao PSB e a Ciro Gomes:

- Mesmo a candidatura de Ciro à Presidência, só lá na frente é que o PSB vai decidir. Defendo uma eleição polarizada. Mas isso não significa que seja entre dois candidatos (Dilma e Serra), mas entre dois projetos. Além disso, a decisão é do PSB.

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Serra elogia 'despreendimento'

Em nota divulgada no início da noite, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), afirmou que a decisão de Aécio Neves de desistir da candidatura à Presidência da República mostra "grandeza e desprendimento". Depois de dizer que Aécio tem condições de ser o "candidato do nosso partido a presidente", Serra afirmou que os tucanos não "são semeadores da discórdia e do ressentimento", pregando a união do PSDB. "Não me surpreendem a grandeza e despreendimento que ele demonstra neste momento. Os termos em que ele se manifestou confirmam a afinidade de valores e as preocupações que inspiram nossa caminhada política. Faço minhas suas palavras", disse Serra, que, na nota de seis parágrafos, em nenhum momento mencionou sua candidatura a presidente.

Usando termos semelhantes aos da carta em que Aécio anunciou sua desistência, Serra afirmou que os tucanos não são estimuladores "de disputas de brasileiros contra brasileiros, de classes contra classes, de moradores de uma região contra moradores de outra região. Trabalhamos, ambos, sempre, pela soma, não pela divisão. Somos brasileiros que apostam na construção e não no conflito".

O governador paulista exaltou ainda os feitos de Aécio à frente do governo de Minas Gerais."O governador Aécio Neves tem todas as condições para ser o candidato do nosso partido a presidente, por seu preparo, sua experiência política, sua visão de Brasil e seu desempenho como governador eleito e reeleito de Minas Gerais. É um homem que soma e que, ao mesmo tempo, sabe conduzir com firmeza as políticas públicas. Não é por menos que seu governo é tão bem avaliado e que a imensa maioria dos mineiros o considera credenciado para ocupar a função mais alta da República".

Ao pregar a "união e a convergência", Serra defendeu um "um projeto nacional mais amplo, generoso e democrático o suficiente para abrigar diferentes correntes do pensamento nacional. E, assim, oferecer ao país uma proposta reformadora e transformadora da realidade que, inclusive, supere e ultrapasse o antagonismo entre o 'nós e eles', que tanto atraso tem legado ao país".

Na quarta-feira, quando ainda estava em Copenhague, onde participou da Conferência da ONU sobre mudanças climáticas, Serra recebeu uma ligação de Aécio. Os dois conversaram por um longo tempo e Aécio revelou a intenção de anunciar sua desistência. No momento em que Aécio divulgava sua decisão, ontem à tarde, Serra participava de um evento de entrega de prêmios a contribuintes sorteados no programa estadual da Nota Fiscal Paulista. Ele não quis dar entrevista.

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