quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A volta dos que não foram

Um pedido de perdão e algumas lágrimas. Esse é o segredo do sucesso de políticos corruptos para voltar à ativa após algum "tropeço", segundo alguns cientistas políticos em matéria publicada no jornal O Estado de SP nesta quarta-feira(09).

No Pará, os exemplos mais recentes foram o do deputado Paulo Rocha (PT), que renunciou ao cargo no escândalo do mensalão em 2005, mas retornou em 2006, e do vereador Ademir Andrade (PSB), que foi eleito para o cargo que ocupa atualmente ano passado mesmo após ter sido preso pela PF em 2006 por irregularidades na administração da Companhia Docas do Pará (CDP), em 2006. No entanto, isso não é privilégio dos paraenses, um bom exemplo é o do atual governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), que se vê envolvido em mais um escândalo em 8 anos.

Não adianta colocarmos a culpa nos eleitores, que na verdade são as vítimas dessas histórias, pois quem deve agir nesses casos, e com mais rigidez e agilidade, é a justiça. Afinal, alguém se arrisca a afirmar que Arruda ainda pode voltar a ser eleito em eleições futuras?

Abaixo a matéria de hoje no jornal O Estado de SP:

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Especialistas apontam brechas na lei e lentidão da Justiça

As acusações de corrupção que envolvem a cúpula do poder no Distrito Federal reavivaram o debate sobre a condescendência dos eleitores em relação a irregularidades cometidas por seus representantes. Afinal, José Roberto Arruda (DEM) é um político reincidente em escândalos - teve de renunciar ao mandato de senador em 2001 por envolvimento na violação do sigilo dos votos de colegas. Apenas um ano depois, foi eleito deputado federal com a maior votação do Brasil, em termos proporcionais. E, em 2006, conquistou o governo do Distrito Federal já no primeiro turno.

Especialistas ouvidos pelo Estado, porém, contestam a tese de que a corrupção seja vista como algo natural no País. O problema, afirmam, é mais institucional do que cultural - brechas na legislação e lentidão da Justiça fazem com que a impunidade seja regra no mundo político.

"Não vejo tolerância em relação à corrupção, mas descrédito nas instituições", afirmou o cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília (UnB). "As pessoas conseguem discernir que a corrupção é um comportamento equivocado, é um desvio, e isso fica claro com o processo de linchamento público a que Arruda está sendo submetido." O problema, acrescenta Barreto, é que os eleitores tendem a generalizar, a ver todos os políticos como corruptos. "Falta a Justiça fazer uma filtragem para depurar o sistema."

"É um esporte tipicamente brasileiro transformar a vítima no culpado", alertou Cláudio Weber Abramo, diretor da ONG Transparência Brasil. "Não podemos perder de vista o fato de que o eleitor é vítima nesse processo."

O cientista político Alberto Carlos Almeida opina que há um certo grau de tolerância com a corrupção, mas que este se confunde com um "nivelamento por baixo" dos políticos. "O eleitor tem essa visão meio clichê de que todos os políticos são iguais."

Abramo e Almeida também cobram uma ação mais efetiva do Judiciário. "O fato é que não há um político no Brasil que tenha sido condenado e preso", observa o cientista político.

Ciente desse problema, o juiz Marlon Reis, do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, pressiona o Congresso a aprovar uma lei que proíba a candidatura de políticos com "ficha suja", mesmo que não tenham sido condenados em última instância. "Nossa campanha tem muito a ver com essa tendência de esquecimento fácil. A ideia é valorizar o histórico dos políticos."

No caso específico de Arruda, Leonardo Barreto afirma que o primeiro escândalo não foi irrelevante na campanha do então candidato a deputado, em 2002. "As pessoas levaram isso em conta, mas ele pediu e obteve perdão. Foi uma campanha feita com base no arrependimento."

Barreto participou da organização do primeiro evento público a que Arruda compareceu após a renúncia - um debate com estudantes na UnB. "A plateia era extremamente hostil. Arruda chegou e disse:

"Pessoal, queria dizer que eu errei, e digo mais, que foi Deus quem me derrubou, porque eu era muito arrogante e tinha esquecido das coisas que realmente importavam." No final, tinha gente chorando e aplaudindo."

Para Marcos Fernandes, economista da Fundação Getúlio Vargas e pesquisador sobre o tema corrupção, a mudança estrutural que propicia a ampliação da classe média tende a deixar o eleitorado cada vez mais exigente em relação à conduta de seus representantes. "Boa parte da população nem sabe que paga impostos, mas isso está mudando. O aumento da escolaridade e a redução da desigualdade ampliam a capacidade da população de ter controle sobre o Estado."

Mas Fernandes também destaca a necessidade de o Judiciário fazer a sua parte. "A grande questão é que a lei não é aplicada. Na França, o julgamento de um processo demora sete meses. Aqui, são 10 anos."

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