É árdua a empreitada a que se dispôs a ministra Dilma Rousseff para construir uma imagem ambientalmente responsável com vistas à campanha eleitoral de 2010. Como chefe da delegação brasileira à conferência do clima que se realiza em Copenhague, Dilma também é a principal negociadora do país à mesa na qual se desencontram os países ricos com aqueles em desenvolvimento. Inevitavelmente será cobrada no fracasso e exaltada no sucesso. Mas a realidade é que tanto o desempenho da ministra como o final da CoP-15 não podem e nem devem ser tratados em termos absolutos, na base do tudo ou nada.Os arquitetos da candidatura Dilma lançaram a ministra nessa empreitada depois que a senadora Marina Silva deixou o governo e trocou o PT pelo PV para se tornar candidata a presidente. Dilma ficou com o papel de vilã da história, a ministra que tentava tocar as obras do PAC a qualquer custo, insensível às questões do ambiente nas quais se entrincheirava a ex-ministra, um ícone dos verdes.
Marina deixou o governo, a execução do PAC continua baixa, o presidente Lula encontrou um outro vilão para botar a culpa (o TCU) e Dilma mostra em Copenhague que é pragmática e aprende rápido sobre o tema que atualmente está no topo da agenda global.
O desempenho da ministra é melhor à medida que ela parece compreender que Copenhague é menos uma questão ambiental e mais uma questão de governança global. É mais economia do que o problema da extinção do mico-leão ou do urso polar se afogando no Ártico, como costuma dizer o assessor de gabinete da Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo, Oswaldo Lucon (sempre com a ressalva de que o mico e o urso são importantes).
Copenhague, portanto, é geopolítica, e a perfomance de Dilma deve ser medida mais por sua eficiência como negociadora do que por suas supostas crenças ambientais.
É evidente a falta de intimidade da ministra nas questões técnicas sobre a redução das emissões de gases poluentes. Na entrevista que concedeu no domingo à noite, frequentemente recorreu a um caderno recheado de anotações. Algumas vezes remeteu a palavra para o ministro Celso Minc (Meio Ambiente), e outras - muitas - para o embaixador Luiz Alberto Figueiredo, o diplomata brasileiro encarregado das negociações sobre as mudanças do clima. Mas sem dúvida pareceu mais à vontade ao falar da "responsabilidade histórica" dos países desenvolvidos na degradação do clima ou na falta de disposição dos mais ricos em falar de dinheiro. Ou ainda sobre metas e prazos, efetivamente o que importa na roda de Copenhague, a CoP-15.
No PT, a questão ambiental sempre foi confundida com a imagem da senadora Marina Silva. Atualmente, segundo o secretário de Relações Internacionais da sigla, Valter Pomar, "o tema ganhou importância mundial, ganhou importância no Brasil e ganhou importância no PT".
Prova disso seria que já nas discussões preparatórias para o Fórum Social Mundial (Belém, 2008), "conseguimos envolver o conjunto do partido no debate e inclusive lançar um documento específico sobre o tema - e estamos acompanhando o debate em curso na CoP", diz Pomar.
Para o secretário petista "há vários motivos para este interesse, mas o principal é que a agressão capitalista (pois é disto que se trata) ao meio-ambiente, agravada nos anos 90, está sendo percebida como uma crescente ameaça à sobrevivência da humanidade" E tudo isso, segundo Valter Pomar, "provoca uma reação defensiva das empresas e dos governos das principais nações capitalistas, que são obrigados a propor medidas ou pelo menos a fingir que estão fazendo algo".
Para Fabio Nehme, chefe para América Latina da Divisão de Créditos de Carbono da EDF Trading, apesar da grande expectativa em torno de Copenhague, reuniões nas quais um grande número de países tenta chegar a uma posição comum sobre temas extremamente complexos "não devem ser analisadas como um tudo ou nada mas sim como um processo" para se achar formas de controlar emissões e fomentar um crescimento mais sustentável. Inevitavelmente a reunião conseguirá avançar muito em algumas áreas e deixará a desejar em outras. O mesmo pode ser dito em relação a Dilma.
Fonte: Valor Econômico
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