sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Arruda sai do DEM e diz que não disputa eleições em 2010


Quem lembra de arruda no Senado Federal negando, com todas as letras, as acusações de que havia fraudado o painel eletrônico de votações? Depois, quando viu que suas mentiras não se sustentavam, voltou à mesma tribuna e anunciou sua renúncia ao cargo para não ser cassado. Provavelmente, poucos brasileiros se lembrem disso, pois um ano e pouco depois foi eleito o deputado federal mais votado no Brasil, proporcionalmente. E, quatro anos depois foi eleito governador do DF. E vinha fazendo uma gestão anunciada como moderna, austera e pautada na transparência e eficiência.

Agora, após as cenas de corrupção que o Brasil inteiro assistiu, "que não falavam por si, mas gritavam", e de toda a pressão popular e de seus colegas de partido no DEM, e depois de algumas estratégias jurídicas que não deram certo, pega novamente o microfone e, sem outra opção, anuncia sua saída do partido, para não ser expulso.

Enquanto isso, manifestantes pedindo sua renúncia ao cargo, são violentamente agredidos pela polícia do DF. Brasília ferve nas ruas e nos bastidores e são previstos reflexos fortes para as eleições de 2010.

Ao microfone, Arruda voltou a falar sobre honra. A mesma honra que o então senador prometia resguardar e provar inocência, pela família e pelos filhos. Parece a estória do marido infiel que, mesmo pego em flagrante, automática e estrategicamente, nega com a cara mais lavada e mentirosa.

O Observatório Eleitoral acredita que Arruda voltará, em breve, ao microfone para anunciar sua nova renúncia. As investigações devem continuar e afunilar ainda mais o governador. Ele se verá encurralado e deixará o governo. Outra hipótese é o andamento dos diversos pedidos de impeachment contra Arruda.

Que sirva de alerta para outros gestores corruptos do país, e que a justiça faça a sua parte: condene exemplarmente os culpados para inibir novos casos de corrupção.

Acompanhe matéria do Globo.com sobre detalhes de sua saída.

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O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, anunciou na tarde desta quinta-feira (10) sua desfiliação do DEM e disse que não será mais candidato. "Não disputarei nenhuma eleição mais", afirmou. O anúncio foi feito na residência oficial de Arruda, em Águas Claras (a 15 km de Brasília). O governador é investigado em um suposto esquema de corrupção.

O escândalo do mensalão do DEM de Brasília começou no dia 27 de novembro, quando a Polícia Federal deflagrou a operação Caixa de Pandora. No inquérito, o governador do DF é apontado como o comandante de um esquema de distribuição de propina a deputados distritais e aliados.

Arruda disse que adversários manipularam imagens para tirá-lo da disputa eleitoral, na qual, segundo ele, era favorito. Ele disse que continua no governo, agora sem interesses eleitorais. "A farsa montada foi o recurso usado pelos meus adversários para me tirar da disputa de 2010. Tudo porque as pesquisas eleitorais me davam ampla vantagem."

Segundo o governador, as gravações em que aparece negociando ou recebendo dinheiro do ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa, que denunciou o suposto esquema de corrupção, foram usadas para confundir a opinião pública.

"Quero trabalhar por Brasília. Quero, agora, me dedicar às questões administrativas do governo, livre para fazer minhas opções. Assim, sem o clima emocional que marca esse momento, quero me dedicar inteiramente a trabalhar por Brasília, defender a minha honra e o mandato de governador que me foi outorgado pela vontade popular", disse Arruda.

O governador disse que agora seu foco será a administração. "Quero dedicar-me inteiramente à tarefa de cumprir, como governador, todos os compromissos e metas assumidos no programa de governo. Como cidadão, vou lutar pela mudança definitiva de certos usos e costumes da política brasileira. Com as atuais regras eleitorais, não disputarei mais nenhuma eleição. Com esse gesto evito o constrangimento dos meus colegas de partido", disse Arruda.

A saída de Arruda do DEM o deixa sem legenda para a disputa de qualquer cargo eletivo nas eleições de 2010. O prazo de filiação a partidos se encerrou no começo de outubro, um ano antes do pleito do ano que vem.

Ao lado da mulher, Flávia, do vice, Paulo Octávio (DEM), e de alguns secretários, ele disse que sua saída do partido evita o constragimento também a amigos. "Quero trabalhar por Brasília. Quero, agora, me dedicar às questões administrativas do governo, livre para fazer minhas opções. Assim, sem o clima emocional que marca esse momento, quero me dedicar inteiramente a trabalhar por Brasília, defender a minha honra e o mandato de governador que me foi outorgado pela vontade popular."

Antes do anúncio de sua desfiliação, Arruda telefonou para os deputados aliados para comunicar sua decisão, disse a deputada Eliana Pedrosa, líder do DEM na Câmara Legislativa do DF.

“O reflexo [da decisão de Arruda] nós só saberemos com o tempo. Ele se desfiliando, tira o componente político”, afirmou. Eliana disse também que a desfiliação não deve afetar a tramitação dos requerimentos de impeachment na Câmara Legislativa. “A Câmara tem um rito processual para esses casos. Nem haverá agilização, nem haverá açodamento [do processo].”

Arruda recorreu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na quarta-feira (9) à noite para tentar evitar uma possível expulsão do partido. No pedido, ele alegava que o tempo dado pelo partido para que se defendesse – 8 dias – era insuficente. O mandado de segurança com pedido de liminar, no entanto, foi negado pela ministra Carmen Lúcia.
Significa que ele reconheceu que seria expulso do partido. Para o partido é bom porque [a legenda] vacilou em um primeiro momento não fazendo o rito sumário, mas pressionou para que ele saísse

O DEM havia marcado para esta sexta-feira pela manhã uma reunião da executiva nacional para discutir a situação de Arruda na legenda. A expulsão do governador no Democratas era dada como certa.

Repercussão

Pouco antes do anúncio da desfiliação, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) comemorava a decisão do governador, dizendo que sua saída era boa para o partido. “Significa que ele reconheceu que seria expulso do partido. Para o partido é bom porque [a legenda] vacilou em um primeiro momento não fazendo o rito sumário, mas pressionou para que ele saísse”, afirmou.

Deputados distritais também avaliaram a saída de Arruda do partido. “Os 24 deputados querem se reeleger. E nenhum vai querer ficar perto de quem não tiver perspectivas de se eleger”, disse a deputada Jaqueline Roriz (PMN).

O deputado Paulo Tadeu (PT) considerou a desfiliação uma “tática” de Arruda. “Ele tentou um caminho diante do cerco”, afirmou. A deputada Eliana Pedrosa, líder do DEM na Câmara Legislativa, evitou avaliar a atitude do governador, mas disse que não considera nem uma vitória, nem uma derrota a saída do partido.

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