PMDB não abre mão de Temer para vice
Cúpula do partido se irrita com a cobrança de Lula sobre a criação de uma lista tríplice para decidir quem formará a chapa com Dilma. Peemedebistas ameaçam até obstruir as votações do pré-sal se o presidente da Câmara não for o escolhido
O PMDB se lixou para o fato de o presidente Lula dizer um palavrão durante discurso no Maranhão. Mas não tolerou a cobrança de uma lista tríplice para a escolha do candidato a vice na chapa da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República em 2010. O partido já tem um pré-candidato para essa composição: o presidente da Câmara, Michel Temer (SP). E a cúpula partidária não aceita vetos. Nos bastidores, a disposição do partido é, no caso de alguém vetar Temer, “acabou a aliança”.
Para mostrar que não estão brincando, os peemedebistas cancelaram a reunião da próxima quarta-feira, quando os dois partidos iriam discutir os palanques estaduais nas eleições do ano que vem. E há ainda um movimento em curso para obstruir as votações do marco regulatório do pré-sal na próxima terça-feira. Em duas notas oficiais, o PMDB registrou a sua indignação e classificou o pedido de três nomes como uma intromissão indevida de Lula nas decisões internas de outra legenda que não o PT.
“É o debate, é a decisão democrática e soberana da convenção nacional que escolherá, se for aprovada a aliança, o seu único candidato à Vice-Presidência da República. Essa prerrogativa, esse direito, por favor, ninguém tente restringir. Em respeito ao PMDB”, afirmou, em nota, o líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). O tom usado é parecido com o texto redigido em conjunto pela presidente do PMDB, deputada Íris de Araújo (GO), e pelo presidente da Fundação Ulysses Guimarães, deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS), ex-ministro dos Transportes do governo Fernando Henrique Cardoso e defensor da candidatura própria.
A nota de Íris e Padilha, com aval dos líderes da Câmara e do Senado, Renan Calheiros, fala em intromissão indevida em assuntos do PMDB e reforça que “só a Convenção Nacional, a se realizar em junho vindouro, no exercício de sua exclusiva competência, decidirá se o pré-acordo será transformado em aliança e o nome do candidato a vice ou daquele que representará o PMDB na sucessão presidencial, em caso de candidatura própria”.
Diante da ameaça do PMDB de manter o suspense sobre a aliança até junho do ano que vem, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, correu cedo para o telefone, no sentido de tentar aliviar a irritação da cúpula do PMDB com o presidente Lula e afastar as desconfianças que ameaçam minar a parceria entre os dois partidos. Ele disse a Henrique Eduardo Alves que a decisão do PMDB será respeitada e que a declaração do presidente Lula havia sido provocada a partir de uma pergunta sobre as chances de o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, maranhense, compor a chapa. O líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza, foi direto: “Quero é botar água na fervura. O que nos une é maior do que isso”.
Opções na surdina
Os peemedebistas estão mesmo desconfiados das reais intenções do PT de aceitar Michel Temer como candidato a vice. Em conversas reservadas, há, dentro do PT, quem considere que Temer não trará os votos que a ministra Dilma precisa para agregar aos 20% que as pesquisas colocam como o patamar de transferência de Lula. Reservadamente, integrantes da cúpula petista estão com os olhos voltados para o nome do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Além de abrir caminho para uma candidatura de Lindberg Farias (PT) ao governo do Rio, a composição com Cabral dá ao PT alguém que já foi testado nas urnas, dirige o terceiro maior colégio eleitoral do país e, para completar, é visto como um político leve e simpático.
Ocorre que, hoje, os deputados e senadores que comandam o diretório nacional do PMDB não têm segurança suficiente para fazer de Cabral o candidato a vice da chapa encabeçada pelo PT. O mesmo vale para o nome de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, recém-filiado ao partido. Ambos não têm votos no diretório nacional para assegurar a vaga de vice. Por isso, a ordem interna é que, se houver veto a Michel Temer, acabou a aliança.
Fonte: Correio Braziliense
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