quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Cumplicidade

A Folha de SP publicou um forte editorial sobre corrupção nesta quinta-feira(10), e lembrou algumas atitudes do atual Governo Federal com relação ao caso do mensalão do DEM-DF, e a diferença de tratamento com os integrantes do PT que estão envolvidos com o mensalão petista de 2005.

O DEM ensaia expulsar o (ainda) governador do DF, José Roberto Arruda, que já até entrou com um pedido de mandado de segurança no TSE em que solicita a suspensão imediata de processo em curso contra ele dentro do partido. No entanto, difícilmente o Tribunal irá inteferir em uma decisão interna de um partido, o máximo que poderá ser feito é julgar alguma ação após a decisão ser tomada. Se o DEM o fizer, melhor para o partido e para o país. Isto, logicamente, se a explusão for definitiva e não parcial, como já comentamos por aqui (leia Outro palco, a mesma peça?).

Ainda na Folha, na coluna do jornalista Josias de Souza, um bom exemplo dessa política de expulsões pela metade. A coluna relata a rotina do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e a desenvoltura com que o ex-integrante do PT parece transitar no Planalto.

Exemplos são muitos e DEM, PT e PSDB (no caso mineiro), deveriam respeitar o eleitor e punir seus corruptos com mais seriedade. Caso contrário, são cúmplices.

Segue abaixo o editorial da Folha:

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Coisas de estarrecer

Dilma se diz indignada com corrupção do DEM, enquanto o PT tenta reescrever a história de seu próprio mensalão

"AS IMAGENS são estarrecedoras. Muito duras, muito claras". São palavras da ministra Dilma Rousseff a respeito das gravações que flagraram o esquema de distribuição de propinas patrocinado pelo governo de José Roberto Arruda, do DEM, no Distrito Federal. A candidata petista à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva se disse ainda favorável a leis mais duras e cobrou agilidade da Justiça quando há "inequivocamente provas de corrupção".

Até aqui, seria difícil discordar. Abundam cenas estarrecedoras na política nacional, sem que a sociedade receba da Justiça respostas compatíveis à gravidade e à extensão dos escândalos que envolvem o patrimônio público.

Dilma, porém, que chegava a uma festa com mais de mil convidados organizada para celebrar os 30 anos do PT, aproveitou a ocasião para ressalvar que não há "provas contundentes" contra petistas que respondem a processo no escândalo do mensalão.

Não é de hoje que o alto comando do PT procura se aproveitar da popularidade de Lula para tentar reescrever a história, apagando crimes a seu favor. Retorna, agora, a fábula de que o mensalão petista, um esquema nacional de compra de apoio político capitaneado pela cúpula da legenda, não passou de recolhimento de "recursos não contabilizados" de campanha. Ninguém com memória e informação cairia nessa esparrela. Vale recordar o que havia de "estarrecedor" no mensalão petista. A começar pelo uso indevido do dinheiro público.

O Banco Popular é só um -e bom- exemplo. Criado, no Banco do Brasil, para emprestar a pessoas de baixa renda, durante um ano e sete meses, sob a gestão de Ivan Guimarães, conseguiu a proeza de gastar mais em publicidade (R$ 24 milhões) do que em empréstimos (R$ 20 milhões). A empresa que se beneficiou da publicidade, sem que se tenha feito nenhuma licitação, foi a DNA de Marcos Valério.

Seria o caso de recordar ainda outros exemplos "de estarrecer" envolvendo este governo: a procissão de deputados, petistas e aliados, que se formou na boca do caixa do Banco Rural para receber quantias várias de mensalão; o jipe que uma empresa beneficiada por contrato milionário da Petrobras deu de presente a Silvio Pereira, ex-secretário-geral do partido; o dinheiro na cueca com que foi flagrado um assessor do irmão de José Genoino, então presidente do PT; a violação do sigilo do caseiro que denunciou atividades envolvendo Antonio Palocci -a lista de escândalos graves é longa.

Poderia ainda incluir o caso dos "aloprados", quando, na campanha de 2006, um grupo de petistas foi flagrado com malas de dinheiro sujo, numa operação para atingir a campanha tucana.Se a vida partidária se nivelou por baixo e os costumes políticos estão degradados, o governo Lula, por ação e conivência, é um dos grandes responsáveis. É bom ter isso em mente para que não se realize a profecia de Delúbio Soares, para quem o mensalão ainda iria virar "piada de salão".

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