sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Publicidade pega carona em popularidade de Lula

Deu na Folha de S. Paulo / Observatório da Imprensa
Por Marcio Aith

Publicidade-exaltação invade os comerciais de TV

Empresas aproveitam a popularidade do presidente Lula e o momento econômico favorável para fazer do governo seu garoto-propaganda. Ambev, GM, Bradesco, Vale e Embratel produziram comerciais de televisão recentes enaltecendo a firmeza do país na crise, a capacidade de superação dos brasileiros, a harmonia entre o público e o privado e a relevância do país no mundo.

O Brasil é o país ‘da iniciativa privada em equilíbrio com o setor público’, diz a campanha televisiva ‘Presença’, do Bradesco, segundo maior banco privado brasileiro.

‘Há dez anos, quem poderia imaginar a gente emprestando dinheiro para o FMI?’, lembra o anúncio televisivo do carro Aprile, da Chevrolet/GM.

‘A crise foi passageira’, avisa comercial da maior siderúrgica do mundo, a Vale. ‘O Brasil vive um momento de ouro’, exalta o comercial da Brahma, marca da Ambev.

Para as empresas e publicitários envolvidos nos comerciais acima, trata-se de uma estratégia legítima, lógica e antiga (leia texto nesta página).

De fato, não é a primeira vez que o setor privado exibe o otimismo do momento em campanhas publicitárias.

Do milagre econômico da ditadura -quando a Volkswagen exibiu um fusca desbravando o país da rodovia Transamazônica- às tentativas de estabilização da economia, várias campanhas seguiram essa linha.

O problema é distinguir marketing da simples adulação -em outras palavras, se o produto anunciado é o governo.

No passado, o Tribunal de Contas da União (TCU) condenou toda a ex-diretoria da Petrobras em razão dos gastos da empresa com campanhas publicitárias mostrando os benefícios do Plano Real.

A questão fica menos óbvia quando os comerciais envolvem companhias 100% privadas com interesses no governo ou aquelas nas quais o Estado detém participação acionária.

O caso mais emblemático é o da Embratel, empresa de telefonia e de transmissão de dados adquirida em 1998 pelo grupo empresarial do bilionário mexicano Carlos Slim.

Em julho, a empresa veiculou um anúncio destacando um programa oficial para fornecer acesso à internet para escolas e centros comunitários em que a rede convencional não chega.

‘Por iniciativa do Ministério das Comunicações, que executa o maior programa de inclusão digital da América Latina’, informava o comercial.

A empresa diz ter apenas creditado, no comercial, a autoria da iniciativa a quem a formulou -o governo, que a contratara para executar o programa.

São menos óbvias as implicações e motivações das campanhas de empresas como a Vale, o Bradesco, a Ambev e a GM.

Criador do comercial do Bradesco, Alexandre Gama, presidente da agência Neogama/ BBH nega motivação política.

‘O Bradesco é o banco mais associado à base da pirâmide social, a mesma base cuja ascensão está na raiz da recuperação econômica do país’, afirma Alexandre Gama.

Curiosamente, no mês passado, o Bradesco foi pressionado a demitir o executivo Roger Agnelli da presidência da Vale -companhia da qual o banco é acionista e cuja campanha na TV também celebra o fato de o país ter escapado da turbulência internacional.

As pressões contra Agnelli decorreram justamente da falta de sintonia, alegada pelo presidente Lula, entre a política de investimentos da Vale e as prioridades do governo."
 
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