Comparações de desempenho entre os respectivos governos são usadas de modo enganoso por petistas e tucanos
POUCO A POUCO , vão surgindo algumas tentativas de aquecer o debate sucessório. Tarefa difícil, dadas não só semelhanças de perfil entre os dois principais postulantes à presidência da República, José Serra e Dilma Rousseff, mas também devido ao processo cumulativo de diluição das diferenças ideológicas entre o PT e os partidos de oposição.
Não admira, portanto, que a candidatura Dilma procure reforçar, no plano retórico, algumas palavras de ordem destinadas a reacender o entusiasmo estatista em setores do PT, procurando identificar a oposição com teses neoliberais.
Ao mesmo tempo, a estratégia oficial é a de mergulhar mais do que nunca nas alianças fisiológicas, e não desdenha de conquistar forças situadas ao centro e à direita do espectro político.
A coreografia, é supérfluo dizer, não traz nada de muito empolgante para a maioria dos eleitores. Desse modo, a procura de diferenças entre as candidaturas se volta para as comparações administrativas entre Lula e FHC.
Em reportagens recentemente publicadas pela Folha, o jornalista Gustavo Patu tem se encarregado de desfazer as manipulações numéricas a que recorrem tucanos e petistas.
Adepto intrépido das comparações, Fernando Henrique vangloriou-se, por exemplo, da queda das taxas de pobreza em seu governo. Não foi bem assim, demonstra a reportagem. Depois de cair 7 pontos percentuais com o Plano Real, a porcentagem da população pobre manteve-se estável, em torno de 28%, de 1995 a 2002, sob a gestão FHC.
Enquanto isso, o presidente Lula exterioriza dados enganosos com a mesma sem-cerimônia. Sobre educação, por exemplo, apontou que os gastos previstos no orçamento saltaram de R$ 20 bilhões para R$ 60 bilhões em seu governo; na verdade, a verba para 2010 está prevista em R$ 51 bilhões, e corresponde a 8% dos gastos totais da União -pouco acima dos 7,3% investidos no começo de sua gestão.
Exemplos desse tipo advertem para os enganos que podem advir cada vez que se utilizam dados técnicos, de interpretação muitas vezes complexa, para fins de propaganda eleitoral.
Deve-se considerar, sobretudo, a presença de um processo cumulativo, pelo qual avanços em um dado período fornecem a base para um progresso posterior. Sem desqualificar o interesse concreto e objetivo de comparações desse tipo, seu alcance é limitado.
Não apenas porque se prestam a manipulações -que cabe sempre desmistificar- mas também porque não substituem o confronto entre programas e propostas para o futuro. Coisa que governo e oposição estão ainda a dever ao eleitorado.
Fonte: Editoriais da Folha de São Paulo
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