A comparação dos números dos governos Fernando Henrique e Lula, proposta pelo ex-presidente em artigo publicado no fim de semana, foi questionada por economistas ouvidos pelo GLOBO. Eles analisam que, além de assumirem estratégias diferentes na área econômica, os dois governos conviveram com contextos internos e externos distintos. Sob esse aspecto, alertam, é preciso levar em conta essas diferenças para não contaminar as análises.
Dados levantados pela ONG Contas Abertas, por exemplo, mostram que o governo Lula investiu 15% a mais que seu antecessor nos sete primeiros anos do governo. Incluindo os investimentos das estatais e da União entre 2003 e 2009, o número chega a R$436,4 bilhões (corrigidos pelo IGP-DI), aproveitando a calmaria econômica internacional do meio da década. Já entre 1995 e 2001, o volume foi de R$379,3 bilhões, período em que ocorreram as crises econômicas do México, da Rússia, dos chamados Tigres Asiáticos, do Brasil e da Argentina.
Mas, numa outra comparação em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), os investimentos do tucano foram maiores que os do petista nos quatro primeiros anos de mandato. Apenas entre 2007 e 2009, com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o governo Lula ultrapassou o antecessor, registrando investimentos superiores a 2% do PIB, de acordo com o Contas Abertas.
O economista Raul Velloso lembra que Lula ampliou os investimentos devido à "bonança internacional" até a crise de 2008 e à manutenção de uma economia estabilizada. Mas, para ele, Lula é ineficiente no gasto, com uma baixa execução orçamentária. Exemplo dessa situação é que, em 2010, o governo terá R$50 bilhões dos chamados "restos a pagar" do ano passado, quase o mesmo valor de R$57 bilhões para investimentos no Orçamento da União para este ano.
- O governo Lula teve mais folga, mais espaço para investir, mas não investiu tudo o que podia devido à ingerência da máquina. Tem como gastar mais, mas tem menos eficiência - disse Velloso, lembrando que o governo tucano apertou os gastos da máquina para fazer frente às crises, enquanto o governo Lula inflou os gastos, principalmente as despesas de pessoal.
Para o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Barreto, os dois governos tiveram orientações ideológicas diferentes, além da situação econômica internacional diferenciada:
- O governo Fernando Henrique teve o trabalho de estabilizar a economia e pegou uma série de crises econômicas que colocaram a economia em xeque. E o governo Lula passou por um período de prosperidade extraordinária. Os dois lados podem usar os números, e haverá uma guerra de números, o que é normal.
O economista Amir Kahir destaca as diferenças de estratégia econômica. Enquanto os tucanos procuraram atrair investimentos privados via privatização, o governo petista focou no aumento do consumo interno.
- As comparações são políticas e relativas - diz.
Ricardo Caldas, professor de Ciência Política da UnB, qualifica a discussão de "artificial":
- O eleitor médio quer saber como ele está hoje em relação há oito anos, se está empregado ou desempregado.
Fonte: Cristiane Jungblut e Gustavo Paul /O Globo
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