Pré-candidato ao Palácio do Planalto confessa sentir-se escanteado por Lula e seus aliados
Partidários de Ciro enxergam no deputado um ar de quem caiu em arapuca ao mudar o título para São Paulo
Pré-candidato à Presidência da República, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) não esconde em conversas reservadas no Ceará a mágoa em relação ao PT. Seus aliados nos mais diversos estados garantem que há inclusive um certo arrependimento de ter cedido ao desejo de aliados e transferido o título para São Paulo, o que agora faz aumentar a pressão para que concorra ao governo estadual paulista, uma campanha que, imposta — e longe de ser o principal desejo do parlamentar —, começa problemática. Além disso, desde a transferência para a política paulista, os aliados detectaram em Ciro uma certa falta de ânimo e descontentamento, com ares de quem caiu em uma arapuca.
Ontem, o próprio Ciro declarou aos sites de notícias que, se depender dele, continua candidato a presidente, uma vez que prefere a “riqueza da eleição em dois turnos”. Também anunciou que discorda do presidente Lula no que se refere ao caráter plebiscitário da eleição defendido pelo governo e pelo PT.
Ciro tem personalidade e seus aliados garantem que ele não quer ser um fantoche que o presidente manipule a seu bel-prazer, de acordo com o que acha melhor para a sua candidata Dilma Rousseff. O socialista sente-se desrespeitado. Até porque, calculam os aliados, se mesmo sem fazer campanha Ciro mantém um patamar que pode ir até os 15% — considerando a margem de erro da pesquisa da CNT —, é sinal de que o candidato do PSB tem um eleitorado cativo que não pode ser desprezado.
A tese de Ciro, de que uma eleição em dois turnos é boa para o governo, começa a fazer adeptos no PSB: “Por mim, Ciro sai candidato a presidente, ainda que seja sem aliança”, afirmou o senador Renato Casagrande (PSB-ES), discordando inclusive do presidente do partido, Eduardo Campos. Ao encontrar o presidente no estado que governa, Pernambuco, Campos disse a Lula que Ciro precisa de alguns aliados liberados para poder viabilizar a sua candidatura presidencial.
Naquele dia, Lula ouviu mais do que falou. Esta semana, no entanto, o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), foi enfático ao se referir à pesquisa CNT/Sensus, que apresentou um cenário em que a candidatura de Ciro tiraria votos de José Serra deixando Dilma Rousseff, do PT, mais próxima do candidato tucano: “Queremos todos os aliados juntos na campanha da ministra Dilma Rousseff”. Vindo do líder do governo, calculam os “ciristas”, é sinal de que Lula não irá liberar ninguém.
Fôlego
Diante dessa constatação de que o governo vai trabalhar contra a candidatura do aliado, a tática do PSB será tentar convencer o PP e o PTB a apoiar Ciro. “O PT e o PMDB já tomaram conta da aliança da ministra Dilma. Com o PP e o PTB estarão melhor? Com Ciro ou com Dilma?”, pergunta Casagrande, numa referência à visibilidade das legendas na sucessão presidencial. Logo depois do carnaval, Ciro terá uma chance de ganhar fôlego. Em 18 de fevereiro, mesmo dia do congresso do PT que pretende fazer um estardalhaço em torno de Dilma, o PSB exibirá o programa(1) do partido na TV. Depois, virão as inserções no meio da programação. Ciro, mesmo que alguns aliados digam que a candidatura presidencial está com os dias contados, vai continuar discordando dos desejos do presidente Lula.
Por Denise Rothenburg/Correio Braziliense
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