quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Sem-terra já lançam candidatos a deputado

Dos dez movimentos de luta pela terra que atuam no Estado de São Paulo, dois já decidiram lançar candidatos próprios às eleições de outubro. O grupo liderado por José Rainha Júnior, dissidente do Movimento dos Sem-Terra (MST), anunciou a candidatura de Diolinda Alves de Souza, mulher dele, para a Assembleia Legislativa. Ela tem legenda garantida pelo PC do B. No oeste paulista, Diolinda fará dobradinha com o pré-candidato a deputado federal José Avelino Pereira, o Chinelo, do Movimento dos Agricultores Sem-Terra (Mast), com legenda do PSB.


Diolinda e José Avelino já foram candidatos há quatro anos. Ela obteve 13,6 mil votos para a Assembleia; ele conseguiu 22 mil, na tentativa frustrada de chegar à Câmara. Chinelo se destacou pela atuação no sindicalismo rural e teve uma breve militância no MST, antes de participar da organização do Mast. Já Diolinda foi uma das principais lideranças femininas do MST.


De acordo com Rainha, as candidaturas atendem a reclamos da massa de seguidores. "O processo eleitoral faz parte da cultura do nosso povo", diz ele. "Eu não gosto de política partidária, mas a Diolinda se dispôs a participar e estamos trabalhando para elegê-la."


A presença direta de acampados e assentados da reforma agrária na cena política vem crescendo ano a ano. Ela é visível na região do Pontal do Paranapanema, que fica no extremo oeste do Estado, na divisa com o Paraná e Mato Grosso, e é o principal foco da reforma agrária paulista. Dos 32 municípios daquela região, 7 contam com vereadores eleitos com votos dos assentados e acampados. No total, são 13 vereadores.


A força dos assentamentos em Mirante do Paranapanema é tão forte que, nas eleições de 2008, a vereadora Maria Nazaré Montemor, do PSDB, cuja reeleição para um terceiro mandato era dada como certa, tentou voar mais alto: ser prefeita. Perdeu, mas não desistiu da política.Mirante tem 32 assentamentos. Maria Nazaré, que vive em um deles com a família, pode voltar à política, disputando até uma vaga na Assembleia. Ela evita falar sobre o assunto, mas insiste: "É importante que o assentado tenha boa representação política."


Sonho antigo


A vaga na Assembleia é um sonho antigo. Agora o projeto do grupo capitaneado por Rainha é eleger Diolinda, que, além de ter participado da consolidação do movimento no Espírito Santo, onde nasceu, e em regiões do Nordeste, liderou dezenas de invasões no Pontal. Por sua atuação na linha de frente da militância, foi presa duas vezes. Em uma delas ficou detida no Carandiru, na capital.


Na eleição anterior, ela concorreu pelo PT. Mas, como o outro grupo do MST passou a controlar o partido em Teodoro Sampaio, cidade onde mora o casal, Diolinda migrou para o PC do B. "O partido é da base de apoio do Lula e vai estar com a Dilma para a Presidência", justifica Rainha.Em relação à campanha passada, ele diz que agora terá mais força porque conta com o apoio do movimento sindical no campo. "O trabalhador da cana está com ela", afirma.


O presidente nacional do Mast, Lino de Macedo, também afirma que a meta é eleger a dobradinha Chinelo-Diolinda. "Estamos fazendo um trabalho de base nos acampamentos, mostrando que temos de defender, em São Paulo e em Brasília, os interesses dos sem-terra."


A direção do MST proíbe seus dirigentes de se candidatarem a cargos eletivos, mas isso não impede o constante assédio dos partidos políticos. Gilmar Mauro, um dos principais líderes nacionais do movimento, foi convidado pelo PSOL para ser candidato à Câmara. Ele recusou, mas não deixou de manifestar sua simpatia pelo partido. Segundo a assessoria de imprensa do MST, quem se candidata deve se afastar das instâncias de coordenação.


Fonte: Estadão

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